Romi-Isetta 65 anos: a história do primeiro carro do Brasil

Romi-Isetta foi o precussor da produção automobilística nacional e ficou em linha por 5 anos; 3.000 unidades do carrinho foram produzidas

Em 5 de setembro de 1956, o Romi-Isetta foi lançado no Brasil. Há exatamente 65 anos, o país recebia um veículo urbano compacto que havia sido desenvolvido na Europa no final dos anos 1940. Aqui, ele se tornou o primeiro carro de produção em série.
A fabricação do veículo ficou a cargo das Indústrias Romi, famosas pela produção de tratores, em Santa Bárbara D’Oeste (SP). O modelo foi produzido no país até 1961. Ao longo dos cinco anos de produção, aproximadamente 3.000 unidades do Romi-Isetta circularam pelas ruas brasileiras.

Com apenas 2,28 metros de comprimento e 1,38 metro de largura, o carro conquistou principalmente a classe artística. Atrizes como Eva Wilma e Dercy Gonçalves, bem como o ator John Herbert, participaram de campanhas publicitárias do compacto, que tinha seu charme.
O estilo do Romi-Isetta produzido no Brasil era inspirado na aviação e possuía um design marcante. Com chassi tubular e eixo dianteiro maior que o traseiro, ele tinha rodas dianteiras com molas independentes. As rodas originais tinham 10 polegadas e enfrentavam bem as irregularidades das estradas brasileiras.

Uma das características marcantes era a (única) porta dianteira que, inspirada em aviões de carga, ao ser aberta, levava consigo a coluna de direção. No interior, havia apenas um banco para dois adultos e uma criança. Dependendo da altura dos ocupantes, bater a cabeça no teto era algo comum.
Inicialmente, o Romi-Isetta era equipado com um motor dois tempos bicilíndrico de 236 cm³ e 9,5 cv de potência. Alcançava uma velocidade máxima de 85 km/h com a ajuda de uma transmissão de quatro marchas. Em 1959, a motorização foi alterada e entrou em cena um motor BMW quatro tempos monocilíndrico, essencialmente um motor de motocicleta. Esse novo motor tinha 298 cilindradas e 13 cv de potência.
Com essa configuração, o carro alcançava a mesma velocidade máxima de 85 km/h. A transmissão e a tração traseira foram mantidas, assim como o tanque de combustível de apenas 13 litros.

História

Foi em 1955 que Carlos Chiti e seu sócio, Américo Emílio Romi, foram a Turim, na Itália, negociar a produção nacional do Iso Isetta com sua criadora. Após uma longa negociação, finalmente obtiveram a licença para fabricar o carro no Brasil.
Os trabalhos para instalação da planta e o relacionamento com fornecedores levaram um ano. Em 1956, tudo estava pronto para a produção do Romi-Isetta, cujas carrocerias eram fornecidas pela Tecnogeral, uma empresa de São Paulo. O índice de nacionalização chegava a 72%. Seu lançamento, em 5 de setembro de 1956, parou a capital paulista, com uma caravana e até mesmo um desfile no Estádio do Pacaembu.
No entanto, após tanto sucesso, o Romi-Isetta se envolveu em uma polêmica. Afinal, ele era considerado um automóvel ou não? De acordo com Claudio Romi, neto de Américo Emílio Romi e diretor da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), sim.

“Inicialmente, o Brasil não tinha regulamentação. No entanto, o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) estabeleceu novas regras. Para receberem benefícios do governo de Juscelino Kubitschek (que assumiu a Presidência da República em 1956), os veículos precisavam ter duas portas e duas fileiras de bancos. E nós não tínhamos”, explica.

Assim, o Romi-Isetta perdeu seus incentivos, teve seu preço duplicado e se tornou menos vantajoso do que outros modelos do mercado, como o DKW-Vemag, que foi o segundo carro de produção em série do país. No final, o Romi-Isetta não resistiu ao ostracismo e saiu de linha em 1961.

Segundo Romi, houve planos de relançar o compacto durante o governo de Itamar Franco (1992-1995). “Apesar dos estudos e do desejo, era financeiramente inviável, pois naquela época a indústria já consumia investimentos milionários, o que tornava impossível o nosso retorno ao mercado. Assim, o projeto foi arquivado”, conclui.